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A Arte de me Amarrar ao livro

  • Foto do escritor: Karen Neme Mendes Caetano
    Karen Neme Mendes Caetano
  • 7 de jan.
  • 3 min de leitura

Atualizado: 14 de jan.

Devido ao meu histórico de fotógrafa de performances, muitas vezes fetichistas, acho prudente deixar claro, antes de tudo, que não vou falar de um livro sobre amarrações de shibari, tá bem?


Esse livro veio parar nas minhas mãos por um acidente provocado pela isca do frete grátis. Sou vítima frequente. Vi a sugestão no site da Editora Âyiné... capa bonita, nome curioso, escritor italiano, sinopse irresistível, bingo! Pode vir pros meus braços.



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Quando chegou, dei aquela olhadela rápida, gostei da estrutura da escrita em textos curtos numerados, o que facilita o mergulho. Deixei descansando na fila eterna da cabeceira até que o levei, entre tantos outros sortudos, para passar o fim de ano na chácara.


Manhã chuvosa no quiosque, som de passarinhos, sorteei o prêmio na mochila e assim floresceu o amor. Andei com ele pra cima e pra baixo por dias.


“A arte de amarrar as pessoas” é um conjunto de relatos poéticos da experiência de um psiquiatra, o hospital de emergência onde ele trabalha, seus pacientes, colegas, urgências, suas dores, as curas, os fracassos. Tudo em pequenos fragmentos, profundos, cheios de figuras ricas que ilustram a loucura além das palavras. Tem toda uma dor bonita, uma entrega real e crua, um ponto de vista sincero de uma profissão dura, que respeito e pela qual tenho encanto.


Já começa assim:

“1.

Tendo fugido de qualquer outro trabalho por medo,

encontro-me fazendo o trabalho que mais mete medo em todos.”


A maneira como ele se dirige aos pacientes em seu imaginário é tão sensível... Me emocionou várias vezes. Fui envolvida pelo desenrolar dos tratamentos, e curiosa, corri.


“45.

Acorde!

Mas você não mexe um músculo.

Não me acorde até que a neve caia.

Não me acorde até que o frio congele as árvores.

Não me acorde até que o lobo siga o odor do cordeiro.

Não me acorde até que a ave predadora trace círculos no céu.

Não me acorde até que a justiça seja tão difícil a ponto de se desistir dela.

Não me acorde até que a verdade se manifeste.

Coloco a mão no teu ombro e repito: acorde.

Você não mexe um músculo.

O teu tempo ainda está por vir.”


Quando cheguei ao último capítulo, resolvi enrolar pra não acabar (sempre faço isso). Voltei pra reler algumas partes, grifei de novo, li pra quem quis ouvir e ontem tomei o último fôlego. Terminei sorvendo palavra por palavra. Tantas feridas cicatrizadas pela poesia.


Sempre gosto de aprender sobre saúde (e doença) mental. Depois da pós em Psicanálise principalmente. Acompanho alguns podcasts, caço documentários, leio artigos além do meu grau de conhecimento, sou fã de carteirinha do Dunker e tals. Nessa pegada, já tinha lido também O Demônio do Meio-Dia (Andrew Solomon), Quando Nietzsche Chorou e A Cura de Schopenhauer (Irvin D. Yalom). Todos recomendadíssimos também.


Durante toda a leitura, lembrei do meu amado Dr Lindolfo, imagino que ele compartilhe muito do que li ali. Inclusive sempre achei que ele é meio artista, também escreve muito bem. Hoje cedo já comprei uma cópia pra mandar de presente.


Essa tarde procurei pelo Paolo Milone no Youtube, adorei a figura. Tem um TED Talk dele bem bacana: Il mondo senza parole (aproveitei e estudei italiano também). https://youtu.be/lZjefjqGdDk?si=1KfgTIuRf1scquxp



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Então é isso! Esse livro não é sobre amarrar corpos, mas sobre amarrar sentidos, esperança e, talvez, um pouco de amor no meio do caos.


Primeiro livro terminado em 2025, incrível, que sigamos assim, amém!


O próximo é O Espírito da Esperança: Contra a Sociedade do Medo, do Byung-Chul Han. Enquanto isso também tá rolando A Vida Secreta das Emoções, da Ilaria Gaspari.


PS: Quer ler comigo? Aí vai o link do meu perfil no Skoob:

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