coreografia da existência
- Karen Neme Mendes Caetano
- 5 de mar.
- 2 min de leitura
quando todo mundo começa a falar muito bem de um filme, desce imediatamente meu lado do contrinha e não assisto. tenho trauma de alta expectativa, né? então assim estou sempre atrasada em alguns assuntos.
teve que passar o oscar 2025 pra eu finalmente assistir o filme que me deixou curiosa em 2024: dias perfeitos.

bom, pra começar, tudo de bom que ouvi falar estava certo.
mas foi pouco.
juro, ouvi muito, ainda assim foi pouco perto do que eu senti assistindo.
como pode ser tão leve e tão denso ao mesmo tempo?
com uma hora de filme, eu era pura angústia. não só pelo silêncio, não só pelo ritmo da trama. tinha ali um desconforto que eu não conseguia apontar de onde vinha (e isso me deixou mais angustiada e mais desconfortável)
chegou o fim do filme, e eu, assim como Hirayama, sorrindo e chorando ao mesmo tempo
o que consegui concluir nas últimas horas: fiquei tão tocada porque também sou uma defensora da rotina. defensora é pouco, sou uma apaixonada. já fiz uma vez um vídeo que era sobre o prazer de fazer as mesmíssimas coisas todíssimos dias. repetições ritualísticas que me dão prazer.
mas carrego nesse amor uma culpa. uma culpa que não vem de mim, que vem dessa loucura toda de yolo, produtividade ininterrupta, rotinas movimentadas, auto aprimoramento incessante etc etc etc.
por que meu ritmo parece uma falha?
às vezes me pergunto se não estou deixando a vida passar por ser tão disciplinada.
mas é exatamente dentro dessa minha estrutura que eu encontro os espaços e tempos pra seu eu. eu mesminha. não a eu empresa competitiva com metas de crescimento semanais que vive correndo atrás de mais e mais e mais e que sempre fala “você poderia estar fazendo mais”
a rotina pra mim é um modo legítimo de existir, um jeito de me conectar com o tempo
estou na vida, sinto, experimento, rio, sofro, aprendo, sem pressão de movimento progressivo.
tem também a dúvida: pode ser que eu esteja construindo uma fortaleza meio rígida?
mas essa discussão deixo pra outro dia, porque agora, como ontem, como antes, como amanhã, como depois, tenho minha rotininha da manhã pra terminar.
graças ao filme, resolvi pensar na rotina como uma
coreografia da existência
cada repetição é um passo, uma marca no tempo
a verdadeira liberdade é escolher o próprio ritmo
ps: o vídeos das mesmíssimas coisas todíssimos os dias é de abril de 2024 e está aqui nesse link do instagram:
(tem a tuca, então já chorei)
コメント