11 anos
- Karen Neme Mendes Caetano
- 19 de jan.
- 2 min de leitura
um filme, um livro, algumas lembranças, um medo familiar.
aftersun: como é rever enquanto adulta uma fita vhs dos seus 11 anos. uma viagem de férias de uma menina com seu pai. um pai que começa a mostrar que pai também ter fraquezas, que pai pode ser triste. cuidar do pai. uma menina que sente a pressão pra sair da infância. o abismo entre infância e adolescência, não ser nem um nem outro. as tradições de pai e filha. o que fica registrado em fita, o que fica no extra da lembrança e que assusta e machuca. desmoronamento.
se deus me chamar não vou: mudança de percepção do que é o mundo. solidão de pré-adolescente. quebrar o mundo que existia dentro de si e tentar construir outro com as poucas ferramentas que se sabe aos 11 anos de idade. “é possível que um lápis pareça estar novo, mas todo quebrado por dentro”. tantas perguntas. a crueldade do mundo escolar pra quem é "grande de tamanho", "grande para a idade". a imagem do que deve ser um adulto. bullying. nojo e vergonha. transição.
meus 11 anos: relutância em largar o espaço da infância. eu 20 cm e 20 kg maior do que qualquer uma das minhas colegas de classe. o infeliz na aula de inglês me falando que se eu pulasse cairia o prédio. meu primeiro regime: salada de tomate e pepino antes do almoço. não poder comer o hambúrguer da cantina da escola. prédio novo, amigos novos. medo sem nome, com cara de vazio.

manias de coach: escreva uma carta para você criança, sempre quero escrever pra essa karen. mas engasgo antes que a caneta toque o papel.
manias de autoajuda: cure sua criança interior, é essa que merece ser visitada e curada. mas tem cura?
angústia: segundo heidegger, a angústia surge quando o edifício dos padrões familiares e cotidianos de percepção e comportamento, nos quais nos instalamos sem questionamento, desmorona e dá lugar a um "não-estar-em-casa". (tirei do byung chul han, o espírito da esperança)
mudança hormonal: pré-adolescência ali, pré-menopausa agora. comportamento do corpo que vai mudar quem você é. vai mudar a mulher que você é. com a distância do tempo, sei que era pra não temer aos 11, também insisto para não temer agora.
Se alguém te ofender os sentimentos, ou se alguém te fez sofrer, morre ou já morreu pra mim.
Que lembranças, que autoanálise, que consciência de si mesma e dos outros. O mundo pode ser anjo , mas muitas vezes é demônio. Colegas sem o mínimo de humanidade. Nem digo educação. A vida mesma pode dar as respostas que não foram pronunciadas. E vc viveu esse drama me poupando a narração desses fatos. Você, sim, sempre teve humanidade. Que bom que a maldade e inconsciência deles nao conseguiram te contaminar.